Mudanças radicais de rumo, seja na vida pessoal ou profissional, não acontecem a toda instante. Normalmente precisam de choques exógenos ou mesmo de datas-limite (deadlines) para que inflexões profundas ocorram. Estas "janelas de oportunidade" funcionam como constrangimentos ou restrições externas que forçam as pessoas a parar de procrastinar e, portanto, a tomar decisões que têm o potencial de mudar radicalmente as suas trajetórias.
No ambiente político-partidário brasileiro, um constrangimento equivalente seria a janela partidária, período de 30 dias que antecede o prazo limite de filiação, em que a fidelidade partidária do político é relaxada de modo a permitir a migração de partido sem riscos de perda de mandato.
Dia 2 de abril, sábado, é justamente o deadline para que os políticos decidam se continuam em seus partidos ou se migram para outra legenda. É também o prazo-limite para que políticos que exerçam cargos no Executivo se desincompatibilizem dessas posições para concorrer a algum cargo eletivo nas eleições de 2022.
Será que a janela partidária desse ano se traduzirá em uma janela de oportunidade para que a pletora de ofertas de pré-candidaturas alternativas aos polos antagônicos se aglutine em torno de apenas um candidato(a), preenchendo assim a demanda de 1/3 dos eleitores que não desejam nem a reeleição de Bolsonaro nem o retorno de Lula?
Dois fatos muito relevantes que ocorreram na política brasileira apontam nesta direção. O primeiro foi a suposta desistência do governador de São Paulo, João Dória, de concorrer à Presidência e de permanecer no cargo até o final do seu mandato. Ainda não está definido se Doria vai concorrer à reeleição ao governo do Estado ou mesmo se permanecerá no PSDB.
O segundo fator relevante foi a decisão do ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro de sair do Podemos e migrar para o União Brasil, também desistindo da sua pré-candidatura à Presidência e sinalizando uma potencial candidatura ao legislativo federal.
Diante dos riscos de cristalização da polarização em torno das candidaturas de Lula e Bolsonaro, que se retroalimentam, não resta outra opção para os partidos e candidatos que pretendem ser alternativa aos polos do que se coordenar em torno de uma única candidatura que tenha o potencial de furar essas bolhas polares.
O deadline da janela partidária parece que está abrindo essa oportunidade. É preciso observar se esses movimentos vão de fato se confirmar e se os partidos e candidatos vão aproveitá-la. (ESTADÃO)
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