|
© Reprodução/Instagram
Campus da Udesc em Florianópolis, Santa Catarina
|
Pelo menos dez alunas da Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc)
denunciaram um professor de história por abuso sexual e estupro. Os
casos vieram à tona depois que uma delas registrou boletim de
ocorrência, no final de fevereiro, alegando ter sido estuprada pelo
docente na casa dele.
Na sequência, outras nove alunas do mesmo professor procuraram a
polícia e relataram abusos cometidos dentro da instituição. Os últimos
três casos foram registrados na quinta-feira, 29. A universidade abriu
uma sindicância interna e o professor pediu afastamento por razões
médicas.
O delegado Paulo de Deus, da 6ª Delegacia de Polícia da
Capital, diz que os relatos das novas vítimas são parecidos com os
depoimentos já colhidos e que os indícios apontam para prática de
assédio sexual, com pena prevista de um a dois anos. Já o caso de
estupro, o primeiro a ser denunciado, teve inquérito encaminhado à
Delegacia de Palhoça, município da Grande Florianópolis onde teria
ocorrido o fato. Nesse caso, se condenado, o professor pode pegar de
seis a 12 anos de prisão em regime fechado.
A advogada Isadora
Tavares, que representa nove das dez supostas vítimas, conta que após a
denúncia por estupro as alunas começaram a conversar entre si sobre o
assunto e descobriram que o professor mantinha postura semelhante com
diversas alunas na sala de orientação pedagógica, momento em que ficava
sozinho com elas.
"Várias delas perceberam que tinham sofrido
algum tipo de assédio sexual, mas como tudo isso ocorria quando estavam
sozinhas com ele achavam que poderia ser uma coisa mais pessoal e não
comentavam isso entre elas", disse Isadora Tavares.
Os relatos à
polícia revelam que o professor acariciava e tocava as partes íntimas
das alunas durante as orientações. As vítimas ainda contam que o
professor relativizava as situações argumentando que era uma pessoa
importante, mas que as alunas não davam valor ao tempo em que tinham
para ficar com ele.
Após as denúncias, todas as alunas do projeto
de pesquisa ligado ao professor anunciaram a saída do grupo acadêmico.
Elas também realizaram um ato, em frente à universidade, onde cobraram
medidas da reitoria contra os abusos dentro da instituição. Cartazes
foram espalhados pelo centro da cidade cobrando que as mulheres
denunciem os casos de abusos sofridos na instituição.
A Udesc se
manifestou por meio de nota e informou a abertura de uma sindicância que
será conduzida pela Procuradoria-Geral do Estado. Segundo a
universidade, as providências serão tomadas após a conclusão da
investigação.
Denúncia de estupro.
A jovem de 21 anos que procurou
a polícia em fevereiro para denunciar o caso de estupro conhecia o
professor antes mesmo de entrar na universidade - relação de amizade que
se estendia à mulher e a sogra do docente. A aluna teria sido
violentada após um jantar que marcou para pedir orientações acadêmicas,
segundo relato em sua denúncia.
"Ele era uma referência acadêmica
para ela e tinham uma relação de amizade. Mas ele se aproveitou dessa
condição", explica a advogada Daniela Félix, que representa a aluna no
inquérito. Segundo Daniela, naquele dia, os dois beberam além da conta e
para que a jovem não precisasse ir embora tarde para uma das
comunidades da periferia de Florianópolis, onde mora com a família, o
professor ofereceu a casa para ela passar a noite.
"Como ela
conhecia a família dele, achou que a mulher e a sogra estariam em casa.
Mas não foi o que aconteceu", emenda dizendo que não houve violência,
mas que a condição de amigos e a confiança que a aluna depositava no
docente a colocou em uma situação de fragilidade.
"O estupro nem
sempre ocorre com violência. O que caracteriza o estupro é a violação do
corpo sem consentimento da vítima. E foi isso que aconteceu naquela
noite. Ela teve uma relação não consentida com o professor", explicou a
advogada.
Defesa.
O advogado do professor, Hédio
Silva Júnior, diz que seu cliente está abalado com as denúncias e por
este motivo pediu afastamento da universidade para tratamento. Segundo a
defesa, o professor nega as acusações de abuso e diz que os relatos das
estudantes não trazem provas. "Em um dos casos a aluna diz que o
professor olhou para ela profundamente. No fim do processo vamos provar a
inocência dele", disse Silva Júnior.
Já no caso de estupro, que
teria ocorrido fora da instituição, a defesa do professor diz que a
relação foi consensual. "Eles saíram para jantar e beberam. Passaram a
noite toda juntos, foi consensual", explica a defesa.
Reconhecido
nacional e internacionalmente na pesquisa acadêmica, o professor da
Udesc era um dos mais respeitados na universidade e também era tido como
referência bibliográfica por muitas das alunas que o acusam pelos
abusos. (MSNN)